O Centro da cidade é um lugar encantado. É onde se guardam muitas memórias ou se escondem muitas histórias sobre a formação de uma cidade. Tudo acontece ao mesmo tempo no centro: comida, roupas, lojas de móveis, farmácias, prédios antigos, praças, botecos, estações de ônibus, hospitais, avenidas, encruzilhadas, cinema, motéis, igrejas e muita gente de todo canto do mundo. Em Fortaleza, o centro tem duas performances: a arte do caos matinal, que vai do nascer do sol ao decorrer do dia no movimento do comércio banhado a um calor escaldante de quase quarenta graus e o pôr do sol banhando algumas praças de vista pro mar, com uma luz bonita de fim de tarde e que se esvaziam as ruas e dá lugar aos mistérios e perigos de um centro emaranhado de longas histórias de vidas.
Caju na Praça do Ferreira 7 por 10
Na minha última ida ao centro de Fortaleza, fui como uma boa cearense do interior, resolver ‘bucho' e bater perna. Tava com saudade de caminhar pelo comércio e conversar com o povo. Em diversas fases da minha vida morando na capital, vivenciei um centro diferente. Quase sempre caminhando a pé ou andando de bicicleta pelas suas ruas a noite, o centro é um dos únicos lugares onde eu me sentia incluída na grande capital. Enquanto outros bairros te engolem ou te expulsam, o centro mostrava a realidade nua e crua da Fortaleza formada por muita gente trabalhadora vinda do interior, que mora em bairros periféricos e trilha a vida fazendo uma longa caminhada das extremidades da cidade ao meio de beira mar pra sobreviver . Por aqui, eu aprendi a me perder e se encontrar, tive meus cantos favoritos de comer como a macaxeira frita perto da Casa Blanca, o pastel da Praça Coração de Jesus ou lugares onde sempre passava como a loja de vinil na rua São Paulo e depois a certeira cerveja gelada na praça dos Leões, caminhadas que eu sempre fazia sozinha ou com amizades queridas que cultivei pela cidade.
Nesse dia fiz um roteiro ligeiro comprando tecidos, embalagens, passando pelo Mercado Central pra comer as castanhas maravilhosas, meles e doce de caju do meu amigo Sr. Joaquim, uma figura que conhece todas as cidades do Ceará. Saindo de lá conheci um Raizeiro que vende mel de jandaíra próximo ao centro cultural banco do nordeste. Comprei Jambu dele pra fazer um banho, testar um sabor pro Leite de Pedra e comer com bolo de tapioca. Fiquei louca pelo mel de jandaíra, mas com os dinheiros contados não consegui comprar.
Em seguida, peguei um moto-taxi e fui atrás de consertar meu copo de liquidificador e ver as linhas de crochê pra minha mãe, bebi uma água de coco maravilhosa no caminho e segui de volta pra Praça do Ferreira encontrar uma amiga querida e fazer uma troca de delícias e matar a saudade. No caminho também passei pela rua do vendedor de morangos e outros vendedores de fruta. Confesso que fiquei na vontade dos cajus lindos e cheirosos, 7 por 10R$, delícia demais! Ganhei da minha amiga Samila umas farinhas incríveis, um livro perfeito sobre a sabedoria das mulheres da Amazônia Maranhense, castanha do Pará e um abraço regado a fofocas e boas risadas no banco de praça. Depois fui comer pastel com caldo de cana, o clássico Leão do Sul, que pelo que meu querido irmão de santo e amigo do interior me disse que “ta cada dia com menos recheio”, mas a azeitona com caroço continua lá rsrsrs
Sr. Joaquim sempre da uma provinha das castanhas pra você ir “se divertindo” como diz ele enquanto escolhe suas delícias. Fica no Mercado Central box 15
Depois fui passear pela feira de flores e plantas em frente ao cinema São Luiz e mandar foto das orquídeas pro meu pai. Como o pastel não encheu o bucho, fui comer um acarajé da Ieda, um dos únicos lugares em Fortaleza, acredito eu, que você consegue comer acarajé de dia é no centro da cidade. Pedi um menorzinho porque sabia que não conseguia comer um todo pois é imenso de farto. Tava incrivelmente delicioso, o bolinho levim, o vatapá, o caruru, saí toda melada de dendê e feliz! Depois disso, fui paquerar os cajus e seguir viagem passando de moto cheia de sacolas pela vista do mar. É sempre uma saudade desses encontros e sempre fico me lembrando das coisas que queria ter feito e não deu tempo, comer tapioca foi uma delas, mas será terá uma volta e outros encontros.
quando cheguei no hotel tinha um sorvete maravilhoso que Davi escolheu pra mim, os meus sabores favoritos da vida: cumaru, café e chocolate 70%
É sempre um prazer viver e se encontrar pelo centro das cidades da nossa terra. E tu, qual memória guarda pelas ruas de uma cidade?
um xero, e até próximo texto.