Com o fim do período chuvoso no Ceará, os pés de goiaba do sítio estão carregados de frutos. Meu pai, sabendo que sou uma recém amante da frutinha araçá, tirou um monte e colocou junto da minha sacola de goiabas que também tinha limão rugoso, folhas de eucalipto e alguns galhos de cidreira. (estou estudando plantas e suas curas ou melhor, tô virando aprendiz de raízeira e vou contar um pouco sobre meu primeiro “lambedor” na próxima Carta Aberta do mês).
Esse foi um dos primeiros doces de tacho que fiz na minha nova morada no interior.
As receitas de doceiras nativas normalmente não têm gramas certas, a medida é do copo de casa, o volume do saco ou no olho e prova do que é colocado na panela.
Fazendo jus a essa tradição, minha goiabada com araçá é na medida do corpo e da intuição.
E assim segue a receita:
mais ou menos meio kilo de goiaba
duas mãos cheias de araçá
quatro dedos do saco de açúcar/quase duas xícaras
pedaços de rapadura/ o que couber na palma da mão
duas folhas de limão
flores e um galho pequeno de cidreira
água para bater as frutas
Primeiro lave as frutas e corte os pedaços, tirando o olho de cada uma delas. Coloque no liquidificador cobrindo com água e bata. Coe o suco na sua panela ou tacho, e adicione o açúcar, as rapaduras, as folhas, flores e galhos. Bote pra ferver no fogo médio, sempre mexendo e observando a panela.
Quando começar a reduzir e as borbulhas a salpicar, baixe o fogo e continue com cuidado para não se queimar. A mistura vai começar a engrossar e o fundo da panela irá aparecer sempre que você mexer o doce. Quando o doce estiver levemente cremoso e pouco líquido, apague o fogo e reserve.
Ao esfriar guarde num pote ou vasilha na geladeira, deixe as folhas, as flores e os galhos, vai fazer toda diferença conservando o doce com perfumes e aquele azedinho único que o araçá tem.
Resolvi compartilhar essa receita porque achei esses dias um pote desse doce que fiz na geladeira dos meus pais e comi com um bom queijo coalho do sertão.
Cada queijo coalho traz o sabor de uma região do Ceará: alguns são mais frescos, outros mais curados, uns mais salgados, outros mais macios. Características precisas de quem faz e do lugar de origem. Esse, por ser da região mais baixa da serra, divisa com o sertão entre Pedra Branca e Tauá, é um queijo mais curado, porém muito macio, bem amarelo e forte. Minha mãe conta que eles são mais cozidos e escaldados, passando mais tempo na prensa deixando o queijo mais amarelado que os coalhos mais frescos.
Com sal na medida, combina bem com a goiabada doce-azedinha. A nata desse queijo também é maravilhosa, outra coisa muito comum no comércio de queijos coalhos aqui da cidade é a venda conjunta da nata e do queijo.
Em breve trago uma degustação pelos queijos coalhos cearense e doces da estação aqui pra vocês.
Esse Doce é dedicado aos meus querides 9 apoiadores do Catarse que ajudam o Leite de Pedra e essa escritora a manter viva o fogo do tacho e da escrita: Roberta, Karina, Thiago, Beatriz, Bruno, Jane, Anne, Renata e Laís.
sabedorias do comer:
Araçá é o termo utilizado no Brasil, de modo geral, para todos os Psidium selvagens;
Pertence à família Myrtaceae e ao gênero Psidium da família das goiabeiras;
O araçáceiro tem uma variedade de espécies nativas do Brasil, que dão frutos de diferentes tamanhos aromas, sabores e cores;
O nome araçá vem do tupi ara’sa, ou do guarani ara (céu), e aza (olho), que significa fruta com olhos ou olhos do céu.
Goiaba fruto é uma espécie de planta tropical das Américas exceto nas regiões do México e Canadá;
As folhas das goiabeiras são curativas e comumente usadas na medicina popular;
O Bolo de Rolo é um doce Pernambucano de origem Europeia criado através de uma adaptação, substituindo o recheio de nozes pelo doce de goiabada, criando um dos bolos mais característicos (e deliciosos) da doçaria popular nordestina.
Espero que tenham gostado. Compartilhem a receita e essas sabedorias, se tiverem dúvida e quiserem trocar experiências do fogão, minha caixa de e-mail e coração sempre estão abertos. Não esqueça de mandar um potim com o doce pra quem você gosta, trocando experiências sobre o comer e a vida.
Pra preservar a terra e manter a doçura das nossas histórias sempre vivas!